terça-feira, 30 de novembro de 2010

Povogado

Vida de gado, povo marcado*
Eles não teto, não tem nada
Não tem chuveiro ou privada
Apenas o dia e a noite
E o privado?
Antes famoso hotel num ano dourado
Hoje desativado
Com portas emparedadas
Foi ocupado
Seu dono mandou desocupar
'Tirem todos do seu novo lar
No meu patrimônio não vão ficar!'
A justiça concedeu
A esperança morreu
Coitado é esse povo que não tem onde morar.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Casamento.

Esse casamento
Tem meu profundo lamento
Acredito no amor
Mas isso está perto do horror

Minha linda, minha querida
Quero que sejas feliz
Sem estabelecer esse tipo de raíz
Tão longe, naquela terra perdida

Você é geniosa e dura
Nunca deixa trasparecer amagura
Mas, olha, se quiser voltar
Pode chamar que eu vou te buscar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bem vinda, Rita!

Eu vinha numa velocidade absurda, atropelando fatos, emoções e sentimentos. Há duas décadas, tudo se tornando uma massa única e cinza embaixo dos meus pés inquietos. Vinha correndo, fugindo de tudo aquilo que ora eu queria que me alcançasse, ora que sumisse do meu entorno. Daí do zero um muro surgiu na minha frente. O choque foi inevitável e eu entrei num coma profundo. Depois saí. Tudo isso em um dia, em uma hora. O choque ocorreu no momento exato em que descobri que a parte nociva da minha intensidade é um mero distúrbio químico, ou seja, um detalhe que pode ser ajustado pra não fazer parte de mim. Bem, no final das contas arrumei uma companheira, a Rita. Ao que tudo indica, seremos grandes amigas e confidentes. Ainda fico meio sem jeito de contar isso às pessoas, porque tenho a impressão de que a Rita fará muito mais por mim do que eu por ela. Enfim, estou otimista e esperançosa, porque eu hoje já não sou a mesma de ontem. Ainda bem...

domingo, 14 de novembro de 2010

Morta de saudades de mim.

O acúmulo de resíduos tóxicos prejudicou tanto minha mente a ponto dela me abandonar. Me transformei num corpo vazio, opaco, desatento, desmotivado e descolorido. O cinza passou a me vestir da cabeça aos pés. Até no tempo ele resolveu se meter, tirando o sol e o calor dos meus dias. Minha vivacidade, amor-próprio, alegria, espontaniedade e sagacidade simplesmente me deixaram sem nem olhar pra trás, sem discutir, sem me ofender ou sequer dizer aquelas verdades que descem rasgando. Nada. Consegui me perder de mim. Nem o verbo ficou por perto pra me levantar. Nem ele, nem o sujeito, as metáforas, enfim, se foi também a inspiração. Gastei dias e noites horizontalizada e escondida dentro do quarto, imersa em dúvidas, questões (insolúveis) existenciais, água salgada e uma tristeza sem fim. Um buraco se abriu no meu peito de dor e não fecha de jeito nenhum.
Até que a pergunta valendo um milhão de reais em barra de ouro (que valem mais que dinheiro) assolou minha mente nublada: PRA QUÊ TUDO ISSO?
Pois é. Absolutamente nada vai melhorar comigo longe de mim dessa forma. Minhas dúvidas perante a minha carreira não vão se resolver, quem eu amo não vai me retribuir na mesma proporção, já que sequer consegue SE amar da mesma forma que eu AINDA insisto em fazer; empregos ótimos não vão ficar tocando minha campainha e tudo vai continuar assim, com aspecto de que nunca terá fim.
Parei de pensar, vou reinventar. Me quero de volta pra me amar, me desejar, me encantar. A vida é um substantivo tão complexo e abstrato que não me dá o direito de fazer outra coisa se não o que manda seu verbo, viver. Se for rosa, florecerá independente de crises e é bem melhor receber as coisas de braços abertos e cheia de cor.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

500mg de cura.

Aparece em tudo que a cerca
Permanece presente ali ainda
Inflamado dentro do peito
Inchado.
Como uma ferida exposta
Um abscesso fétido que dói
Não há como respirar direito
Excesso.
Receitem-na uma pomada
Um antídoto que consiga curar
A dor dessa perda toda
Remova.