segunda-feira, 26 de abril de 2010

Linha tênue.

Posso sentir ela bem perto. Fazia tempo que ela não vinha me visitar.
Geralmente vem a noite, quanto tudo está quieto, escuro. Quando meus pensamentos estão mais girtantes e minha realidade mais visceral.
Puta egoísta! Que realidade visceral se tenho tudo? Basta eu pedir e aquilo logo está na minha mão. Tenho amor, dedicação, atenção, dinheiro, carro e fico falando de realidade visceral? Pára.
Sofro de insatisfação crônica porque tenho tudo e não dou valor a nada. Não pago aluguel, não preciso me preocupar em pagar a prestação da máquina de lavar, não trabalho, durmo todo dia a tarde, não lavo louça, não limpo a casa e não sei fazer uma panela de arroz.
Que grande merda.
E meus vinte anos estão aí chegando e gritando na minha cara. Gritam que eu não sou nada, que não faço diferença em nada do que gostaria. Gritam que minha carência me torna desagradável e que afasto as pessoas que quero perto. Gritam que estudo numa faculdade elitista, que gasto mil reais mensais e que nem sei o que é essa quantia de dinheiro porque nem trabalhar eu trabalho. Gritam que minha vida é uma chatice, que nesses 20 anos eu vivi as experiências mais malucas e surreais, todas forradas de muitas mentiras e ilusões. Gritam que eu sou um personagem, um personagem que funciona bem. Cara e postura de forte, mas que tão frágil quanto uma flor dente de leão. Uma rajada de vento leva tudo embora. Gritam que ninguém me conhece, que isso que sou é uma defesa, um medo do real.
Sempre no conflito. Realidade externa X interna, razão X emoção.
É sempre assim quando a realidade me visita. Ela sempre traz a loucura.
E essa me seduz, me encanta, me faz sentir livre. Traz os pensamentos densos, as vontades mais absurdas e um desespero tamanho. Na verdade, traz uma vontade súbita de querer sair, correr, cair. Por isso o desespero e as gotas salgadas que saem de mim. Traz a tristeza e toda a sua complexidade. Pra que ser feliz no estilo do barquinho que vai e da tardinha que cai? Simples, porque essa minha intensidade não suporta isso.

Habito sempre a linha tênue entre ela e a sanidade.